O SOFRIMENTO NÃO quer que nós o observemos diretamente e
vejamos o que ele realmente é. No momento em que o observamos, sentimos
seu campo energético dentro de nós e desfazemos a nossa identificação
com ele, surge uma nova dimensão da consciência.
Chamo isso de presença. Passamos a ser testemunhas ou
observadores do sofrimento. Isso significa que ele não pode mais nos
usar, fingindo ser nosso eu interior. Então, não temos mais como
realimentá-lo. Aqui está nossa mais profunda força interior.
Alguns sofrimentos são irritantes, mas inofensivos, como é
o caso de uma criança que não para de chorar. Outros são monstros
destrutivos e mórbidos, verdadeiros demônios. Alguns são fisicamente
violentos; outros, emocionalmente violentos. Eles podem atacar tanto as
pessoas à nossa volta quanto a nós mesmos, seus hospedeiros. Os
pensamentos e sentimentos relativos à nossa vida tornam-se, então,
profundamente negativos e autodestrutivos. Doenças e acidentes
frequentemente acontecem desse modo. Alguns sofrimentos podem até levar
uma pessoa ao suicídio.
Às vezes levamos um choque ao descobrir uma faceta
detestável em alguém que pensávamos conhecer bem. Entretanto, é mais
importante observar essa situação em nós mesmos do que nos outros.
PRESTE ATENÇÃO A qualquer sinal de infelicidade em você,
qualquer que seja a foma, pois talvez seja o despertar do sofrimento.
Ele pode se manifestar como uma irritação, um sinal de impaciência, um
ar sombrio, um desejo de ferir, sentimentos de raiva, ira e depressão
ou uma necessidade de criar algum tipo de problema em seus
relacionamentos. Agarre o sinal no momento em que ele despertar de seu
estado inativo.
O sofrimento deseja sobreviver, mas, para isso, precisa
conseguir que nos identifiquemos inconscientemente com ele. Então poderá
nascer, nos dominar, "tornar-se nós" e viver através de nós.
Ele retira seu "alimento" de nós. Vale-se de qualquer
experiência sintonizada com o seu próprio tipo de energia, qualquer
coisa que provoque um sofrimento adicional sob qualquer forma: raiva,
destruição, rancor, desgostos, problemas emocionais, violência e até
mesmo doenças. Portanto, quando o sofrimento toma conta de nós, cria uma
situação em nossas vidas que reflete a própria frequência de energia da
qual ele se alimenta. Sofrimento só se alimenta de sofrimento. Não
consegue se alimentar de alegria. Acha-a indigesta.
Quando o sofrimento nos domina, faz com que desejemos ter
mais sofrimento. Passamos a ser vítimas ou agressores. Queremos infligir
sofrimento, ou senti-lo, ou ambos. Na verdade, não há muita diferença
entre os dois. E claro que não ternos consciência disso e afirmamos que
não queremos sofrer. Mas preste bem atenção e verá que o seu pensamento e
o seu comportamento estão programados para continuar com o sofrimento,
tanto para você quanto para os outros. Se você estivesse consciente
disso, o padrão iria se desfazer, porque desejar mais sofrimento é uma
insanidade, e ninguém é insano conscientemente.
O sofrimento, a sombra escura projetada pelo ego, tem medo da luz da nossa consciência. Teme ser descoberto. Sobrevive graças à
nossa identificação inconsciente com ele, assim como do
medo inconsciente de enfrentarmos o sofrimento que vive dentro de nós.
Mas, se não o enfrentarmos, se não direcionarmos a luz da nossa
consciência para o sofrimento, seremos forçados a revivê-lo.
O sofrimento pode parecer um monstro perigoso, mas eu
garan¬to que se trata de um fantasma frágil. Ele não pode prevalecer
sobre o poder da nossa presença.
QUANDO PASSAMOS A observadores e começamos a deixar de nos
identificar, o sofrimento ainda continua a agir por um tempo e vai
tentar fazer com que voltemos a nos identificar com ele. Embora não
esteja mais recebendo a energia originada da nossa identificação com
ele, o sofrimento ainda tem sua força, como uma roda-gigante que
continua a girar mesmo quando deixa de receber o impulso. Nesse estágio,
o sofrimento pode até ocasionar dores em diversas partes do corpo, mas
elas não vão durar.
Esteja presente, fique consciente. Vigie o seu espaço
interior. Você vai precisar estar presente e alerta para ser capaz de
observar o sofrimento de um modo direto e sentir a energia que emana
dele. Agindo assim, o sofrimento não terá força para controlar o seu
pensamento.
No momento em que o seu pensamento se alinha com o campo
energético do sofrimento, você está se identificando com ele e, de novo,
alimentando-o com os seus pensamentos. Por exemplo, se a raiva é a
vibração de energia que predomina no sofrimento e você alimenta esse
sentimento, insistindo em pensar no que alguém fez para prejudicá-lo ou
no que você vai fazer em relação a essa pessoa, é porque você já não
está mais consciente, e o sofrimento se tornou "você". Onde existe raiva
existe sempre um sofrimento oculto.
Quando você começa a entrar em um padrão mental negativo e
a pensar como a sua vida é horrorosa, isso quer dizer que o
pensamento se alinhou com o sofrimento e você passou a estar
inconsciente e vulnerável a um ataque do sofrimento.
Utilizo a palavra "inconsciência" no presente contexto
para significar uma identificação com um padrão mental ou emocional.
Isso implica uma ausência completa do observador.
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